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Cidades da Europa que Impulsionaram o Maranhão

Por Antônio Noberto, que estará no programa STANDBY 5a. Temporada

Publicado em: 29/05/2023

Nove cidades da Europa que impulsionaram o Maranhão

Gratidão não é um sentimento inerente a todo ser humano, mas quem nos faz feliz a gente nunca esquece. O Maranhão já foi uma das cinco províncias mais prósperas do Brasil, quando a capital São Luís ocupava o honroso posto de "quarta cidade brasileira", segundo os viajantes e pesquisadores bavaros Spix e Martius, que aqui aportaram no alvorecer do século dezenove. Naquele período, a capital e outras cidades, a exemplo de Alcântara, Caxias e Viana, respiravam os bons ventos civilizatório do primeiro mundo, na economia, na indústria, na medicina, na engenharia, na cultura, na educação, nas artes e em outros seguimentos. Não era raro viajantes e caixeiros afluirem de locais distantes para adquirir o que de mais novo aqui chegava de Lisboa, Londres e Paris. O afluxo da antiga capital do Piauí, Oeiras, para a Ilha do Maranhão era uma constante. Descia-se o rio Parnaiba e, de lá, navegava-se até cá para a prática do comércio, dos estudos e para aproveitar as benesses trazidas do Velho Mundo. Os maranhenses viveram estes bons momentos até o final da Belle Époque (Bela Época), quando as bombas da Primeira Guerra (1914 a 1918) deceparam o belo e instituíram o terror em quase todo o planeta. Aquele momento de glória nestas terras tupinambás teve início três séculos antes, quando navegadores franceses, holandeses e portugueses aqui vinham se aventurar na esperança de implantar uma colônia para seu país e para si. 

É possível elencar dezenas de cidades européias importantes no processo de consolidação do Maranhão durante os séculos, mas seria difícil pormenoriza-las dando os devidos créditos. Na verdade, até mesmo os países seria difícil detalha-los. Como esquecer a contribuição espanhola, holandesa, italiana, americana, escocesa, irlandesa... como não mencionar a contribuição de sírio-libaneses, que, agrupados no porto de Marselha, para este torrão partiram trazendo-nos a expertise do comércio e do cinema, aqui chegado apenas dois anos depois de criado pelos irmãos Lumière. 

São muitas as contribuições dos mais diversos povos, mas aqui resumiremos a três países e nove cidades que contribuíram de forma decisiva para que alcancássemos no século XIX o codinome de _La petite ville aux palais de porcelaine_ (A cidadezinha dos palácios de porcelana). A escolha destes lugares não é a toa, segue ao menos dois critérios de escolha: são lugares de proeminência na contribuição ao Maranhão e, por conta disto, foram visitadas nos últimos anos por este pesquisador e acadêmico que escreve este texto. Então vamos lá. 

França: Paris, Saint-Malo e Cancale - foi onde tudo começou. As viagens pioneiras e de sucesso, que estabeleceram o início da colonização no Maranhão partiram deste país irmão, a França. Foi no então Palácio do Louvre - hoje o maior museu do mundo - em Paris, onde aconteceram as reuniões e o planejamento para a criação de uma colônia no norte do Brasil, com sede na Upaon Açu, batizada de São Luís. Foi em Paris que se ouviu pela primeira vez o som dos maracás atraindo a atenção do rei menino, Luís XIII, que emprestou seu nome à capital do Maranhão. 

Foi das cidades bretãs de Saint-Malo (pronuncia-se Sã Malô) e de Cancale, que partiu sob salvas de canhões a esquadra fundadora de 1612. Atualmente, as duas cidades vêm trabalhando o nome do fundador Daniel de la Touche de la Ravardière colocando-o no nível de outros grandes navegadores franceses, a exemplo de Jacques Cartier, o descobridor do Canadá, Samuel de Champlain, o conquistador do Canadá, Duguay-Trouin, que colocou de joelhos o Rio de Janeiro em 1711, após o assassinato de outro navegador francês nas prisões do Rio. La Touche é também o descobridor das Guianas.

Hoje, o porto de La Houle, em Cancale, conta com um busto de La Touche em local proeminente, sendo o ponto mais demandado por turistas que visitam a cidade.

No século dezenove a França se instalou no Maranhão através de uma colônia que nos vendia o luxo e a arte. No início da Rua Grande, na loja Douchement, era possível comprar pianos, os mesmos vendidos nas melhores lojas da capital francesa.

Portugal: Lisboa, Setúbal e Coimbra - a pátria mãe continua firme no coração do brasileiro. Era de Lisboa e (do Porto) que partia a força colonizadora para o Brasil e para o Maranhão. E eram nestes portos que os brasileiros desembarcavam para os estudos, na esperança de retornar levando o tesouro do conhecimento para seu país de origem. Eram neles o embarque e desembarque do grosso do comércio praticado no Maranhão. Enquanto Lisboa era a capital administrativa, Setúbal era a cidade de apoio. Em 1494, três meses após a assinatura do Tratado de Tordesilhas, na Espanha, todo o aparato do poder ibérico se reuniu em Setúbal para referendar o Tratado. Setúbal é a cidade de figuras proeminentes, a exemplo de Manuel Maria du Bocage, o poeta do arcadismo lusitano, o Frei Sardinha, primeiro bispo do Brasil, e o ilustre Fran Paxeco, fundador da Faculdade de Direito do Maranhão e da Academia Maranhense de

Letras. 

Coimbra foi a Meca do conhecimento para muitos maranhenses ilustres, sendo Antonio Gonçalves Dias o mais destacado. Coimbra foi o local do exílio do nosso maior poeta, após se declarar contra a Independência do Brasil. Foi no Colégio das Artes que ele concluiu o curso secundário.

Inglaterra: Londres, Liverpool e Manchester - no século dezenove, enquanto a França vendia o luxo aos maranhenses, a Inglaterra nos proporcionava o conforto através das máquinas. Naquele período, a política internacional inglesa era tão forte que, no Maranhão, as pessoas mais simples criticavam em versos: "Não se pesca mais aqui, não se pode mais pescá, que já sube da nutiça, que os ingrês comprou o mar". Além de Londres, grande parte das máquinas que nos eram enviadas vinham do parque fabril de Liverpool e de Manchester, localizadas a cerca cem quilômetros da Escócia e a cinquenta da Irlanda.

Conforme mencionado, são inúmeras as cidades européias que propiciaram à capital do Maranhão o invejável status de principal cidade do Brasil setentrional. Estas nove são apenas o incentivo para que muitos outros pesquisadores coletem e tragam a lume os grandes tesouros do passado, pois o Maranhão é o estado desta terça parte do Brasil que mais tem história a oferecer a população e aos seus visitantes.

ANTONIO NOBERTO estará no Programa STANDBY 5a. Temporada " Renovando as Forças, e Voando mais Alto" nas plataformas digitais da www.rnnn.com.br

 

Quem é ANTÔNIO NOBERTO ?

Pesquisador, palestrante e escritor. Membro-fundador e ex-presidente da Academia Ludovicense de Letras - ALL, membro-fundador da AVLA, membro da Luminescence Academie Française (Vale do Loire), Doutor Honoris Causa em História (FEBACLA). Idealizador e curador da exposição França Equinocial para sempre.

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