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Revivendo Nossa São Luis

O Cine Éden e os primórdios do Cinema na capital maranhense

Publicado em: 23/06/2023

Revivendo Nossa São Luis

Antônio Noberto

REVIVENDO NOSSA SÃO LUÍS

 O Cine Éden e os primórdios do cinema na capital maranhense

Antonio Noberto e Valterian Mendonça

Quem já entrou na fila do Cine Éden para assistir a algum filme clássico ou a algum sucesso de bilheteria?

O cinema mais tradicional e chic de São Luís era o Cine Éden, localizado na Rua Grande, antigo "Caminho Grande", a via mais importante da Ilha, que ligava o Centro da cidade às áreas mais afastadas, como o Areal (Monte Castelo) e o Anil, até conectar à Estrada Real ou Caminho para a Estiva, embrião da BR-135. A Rua Grande tinha nos dois primeiros quilômetros de extensão (do Largo do Carmo à Quinta das Laranjeiras), o ápice do luxo, da pomposidade, do comércio, da riqueza e do glamour. Ali comprava-se "o que de mais novo chegava de Paris". Logo no início do logradouro era possível comprar pianos de cauda os mais luxuosos, na loja francesa Douchemim. Uma quadra depois morava Ana Jansen ou Donana, a "Rainha do Maranhão", a maior proprietária de escravos da abastada província. 

No início do século XX, mesmo com a perceptível debilidade do comércio, a Rua ganhava vida com a chegada da sétima arte, através do Cine Éden, o templo da arte e da tecnologia da época. 

Em frente ao Éden, no século anterior, morou uma das figuras mais ilustres da província e do país, o escritor Manoel Odorico Mendes. Além da mencionada Donana.

O Cine Éden ficava na esquina com a Travessa dos Sineiros (atual Rua Godofredo Viana). E sua inauguração aconteceu em abril de 1919 funcionando até 1984. Foi o cinema mais luxuoso da cidade, se comparado ao cine Rialto (próximo ao Hospital Djalma Marques, o "Socorrão") e ao Cine Rex (do João Paulo, proximo ao 24⁰ BIS), ao Petit e Rivoli (no Anil). 

Destacavam-se a suntuosidade da escada de acesso e a imensidão da sala de projeção (se comparada às pequenas salas de cinema de hoje).

A magia do Cine Éden promoveu muitos encontros, namoros e casamentos, sendo que alguns permanecem até hoje. Era na porta, na rua ou no escurinho do cinema, assistindo Sansão e Dalila ou a filmes românticos que muitos destinos se cruzaram

Importante dizer que a tradição do cinema no Maranhão remonta os primórdios da sétima arte no mundo, sendo a sua criação pelos irmãos Louis e Auguste Lumière, em dezembro de 1895. A chegada desta arte à "Ilha do Amor" aconteceu em tempo recorde, dois anos após a sua invenção em Paris.

Em São Luís e nas demais capitais, observa-se que o cinema acompanhava a fábrica. Onde tinha uma fábrica, instalava-se um cinema para garantir o lazer dos trabalhadores. Na capital maranhense, foi assim com o Cine Monte Castelo, Cine Passeio, Cine Rex, dentre outros. Não menos importante foi o Cine Roxy, localizado na Rua do Egito (onde atualmente funciona o Cine Teatro Municipal), que se especializou em uma programação voltada para o público adulto. E o Cine Ribamar, inaugurado no início da década de 50 e que durou até o final da década de 1970.

Umas das gravações mais importantes na nossa capital foi o traslado dos restos mortais do ilustre escritor maranhense João Francisco Lisboa, removidos em 1911, da capela-mor da Igreja do Convento de Nossa Senhora do Carmo para o local onde se encontra a estátua do escritor, na Praça que recebeu o nome dele, no Centro de São Luís.

A iniciativa e difusão do cinema em nossa capital devemos a sírio-libaneses, aqui chegados a partir do ultimo quartel do século XIX. Mas não somente eles, o Cine Ribamar, por exemplo, foi implantado por iniciativa de um português, que fixou residência naquela importante cidade balneária.

A chegada de novas tecnologias e opções acabaram selando o fim do Cine Éden e dos principais cinemas da época. Os mais duradouros permaneceram em pé até a década de oitenta.

Antonio Noberto

Turismólogo, pesquisador, escritor e palestrante. Membro-fundador e ex-presidente da Academia Ludovicense de Letras (ALL), AVLA, 2⁰ vice-presidente da Cruz Vermelha no Maranhão, Doutor Honoris Causa em História, Embaixador da Paz. 

Valterian Mendonça

Membro do Instituto de Geografia e História Militar do Brasil/UNIRIO e do Instituto de Estudos Estratégicos/UFF.

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