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Edmilson Sanches: Vereador Buzuca

Política, Cultura e Esporte em Luto

Publicado em: 05/03/2021

Edmilson Sanches: Vereador Buzuca

Vereador Buzuca

JOSÉ CARNEIRO SANTOS (BUZUCA)
(Imperatriz, 07 de abril de 1968 – São Luís, 05 de março de 2021)

Há um mês e dois dias de completar seus 53 anos, morre em São Luís o microempresário, ex-vereador e gestor público e esportivo José Carneiro Santos, mais conhecido por Buzuca. Nascido em Imperatriz, em 07 de abril de 1968, era casado com Dª Maria Edna Ferreira desde 14 de junho de 1992. 

Buzuca e eu fomos colegas de mesmo mandato (2009 a 2012) na Câmara Municipal de Imperatriz. Ele recebeu 2.250 votos. Até onde a cada um é dado conhecer o outro, as interações que (man)tive com ele mostraram-no uma pessoa discreta, pacata, alegre. Sempre me procurava para ideias sobre projetos legislativos. Fazia elogios positivos públicos, às vezes superdimensionados, sobre minha ação parlamentar. Como ele e eu já tínhamos sido dirigentes esportivos  --  mais especificamente, no futebol --, Buzuca apoiou-me quando fiz o projeto (que se tornou Lei) sobre oficialização/legalização do nome do Estádio Municipal Frei Epifânio da Badia, para o que, em dia de estádio cheio, fiz pesquisas com torcedores, jornalistas e desportistas acerca de qual seria o melhor nome para nossa principal praça de esportes: Estádio Municipal Frei Epifânio ou Estádio Municipal Frei Epifânio da Badia (não é “da Abadia” nem “d’Abadia”; é Badia, nome da cidade italiana onde nasceu Frei Epifânio).

Em 31 de junho de 2009, às vésperas do recesso parlamentar, Buzuca e eu fomos assim definidos em texto escrito e lido pela vereadora Maria de Fátima Avelino: “SANCHES – Nosso mestre”. “BUZUCA – Seriedade”. Fátima Avelino é também escritora e há tempos fala em publicar um livro, que ela já tem pronto.

Mas quando a insatisfação ou indignação lhe fazia subir a temperatura, Buzuca não economizava, inclusive na tribuna do Poder Legislativo imperatrizense. Ele “trocava” a seriedade pela realidade. Por exemplo, em 02 de dezembro de 2009, uma quarta-feira, o vereador Buzuca botou pra feder e denunciou, na Câmara, referindo-se a ruas de um bairro de Imperatriz: “ -- As ruas são um mar de merda.”

Dois meses antes, na sessão de 07 de outubro de 2009, Buzuca já demonstrava insatisfação com as coisas e a inação do governo municipal do qual ele era da base de apoio. Disse Buzuca, em sessão gravada (todas são gravadas): “ --- No Santa Rita acidentes de trânsito estão acontecendo, e o secretário só se justificando de que não tem material ou não foi licitado”. E continuou, visivelmente contrariado, insatisfeito: “ --- Eu tenho sido vereador da base aliada. Levantei a mão quando o líder do governo pediu para saber quem era da base. Mas a partir de agora não vou ficar calado. Quem quiser gostar, goste; quem não quiser... //  Não quero que as pessoas tenham apreço por mim só batendo nas costas.” 

Essa insatisfação já vinha de tempos antes. Tanto que, em 08 de fevereiro de 2009, no programa “A Gente Vê”, Rede TV, Canal 5, Buzuca denunciou o Hospital Municipal de Imperatriz, o conhecido Socorrão. Disse Buzuca: “ --- O Socorrão de Imperatriz é um Matadouro Público de seres humanos”.  Em seguida, comentando alegadas palavras de servidores públicos sobre vereadores estarem “metendo o dedo” onde não deveriam, que seriam os problemas daquele hospital municipal, Buzuca não contou conversa: “  --- Nós não vamos meter só o dedo, não  -- vamos enfiar é a mão inteira!...”

Ainda em 2009, em 15 de dezembro, o bancário, pastor evangélico e escritor Luís Gonçalves Costa, também vereador e membro da Academia Açailandense de Letras, homenageou publicamente seus pares parlamentares e colocou Buzuca e Sanches em versos, assim:

“Meu Vereador BUZUCA
Do esporte é defensor
É uma correria maluca
E é um grande vencedor
Fala ele pouco, mas fala
Sempre presente na sala 
É um grande legislador 

O vereador Zé Carneiro
Buzuca é o apelido seu
É um grande companheiro
Que facilmente se elegeu
Exercendo o seu papel 
É companheiro fiel 
E um grande amigo meu

SANCHES é um intelectual 
Tem um discurso perfeito  
É um vereador genial 
É bom mesmo esse sujeito 
Mas disse esse cidadão
Que sua maior intenção  
É de ser mesmo prefeito

O Sanches sabe de tudo
Pois lê muito e é dedicado
Esse rapaz tem estudo 
E sempre foi esforçado 
Foi meu colega no Banco
E ao dizer isso não manco
Foi eleito o mais votado.”

Em 20 de setembro de 2009, um domingo, Buzuca e eu estávamos novamente sendo alvo de homenagem, desta feita pela ACOMDECULBI, a associação que reúne clubes de futebol dos bairros de Imperatriz.  A coisa aconteceu lá no campo de futebol da Laminadora Paraná, e Buzuca e eu recebemos medalha em reconhecimento aos serviços prestados ao esporte amador. (Gratidão ao amigo e apoiador José Lobo). Em 25 de novembro de 2009, em audiência pública na Câmara Municipal, Buzuca manifestou-se sobre a situação do clube de futebol que ele iria levar à conquista do campeonato seis anos depois:  “ --- Criticar é muito fácil; assumir o problema é que são elas. A gente só sabe quando o sapato dói depois que se calça ele. O Imperatriz só será forte se nós nos mantivermos unidos.”

Eu era cliente do pequeno negócio de entrega de botijões de gás que o Buzuca tinha. Já depois do término de meu mandato, ali pelo segundo semestre de 2013, em encontro casual com o Buzuca, ele me falava, chateado, de, creio, uma ação do Ministério Público estadual contra ele, que envolveria, em algum aspecto, seu pequeno empreendimento. De outra vez, já ele presidente da Fundação Cultural de Imperatriz, estive lá para troca de ideias, a convite de assessores e técnicos da Entidade (Axell Brito, Giovane Pietrini, Samuel Souza...).

Já que estamos às vésperas do Dia Internacional da Mulher (8 de março), registre-se que, no seu mandato 2013—2016, o vereador Buzuca assim se expressou, sobre violência homem contra mulher: “Homem que bate em mulher é animal. E incrível como isso acontece todo dia”. Nessa oportunidade, em que aparteava a vereadora Caetana Frazão, Buzuca redisse da importância de as mulheres vítimas buscarem as salvaguardas da Polícia, da Justiça, do Ministério Público, do que fosse, para resguardar o direito, dali para diante, à incolumidade física e à vida. Comentando o que já havia testemunhado em termos de violência masculina contra a mulher, Buzuca relatou: “O que presenciei foi a mulher correndo pra se livrar do espancamento, pra se esconder, mas não teve coragem de denunciar. A mulher precisa ter coragem de denunciar. Me deu vontade de ligar pra polícia, mas fiquei com medo de que  a mulher, ao ser chamada, não confirmasse a denúncia”.

Certa feita, fiz uma duas ou três visitas à Dª Maria Francisca Pereira da Silva, a Francisca do Lindô, criadora do grupo Batalhão Real, que mantém viva a dança do lindô e do cacuriá. Em uma dessas visitas, o Buzuca fez questão de me acompanhar, pois era morador conhecido e r4conhecido do mesmo bairro, o Santa Inês, pegado ao Cemitério campo da saudade. Dª Francisca do Lindô era minha conterrânea, de Caxias. Ela nascera no povoado caxiense Água Fria e já aos cinco anos de idade aprendia a dançar lindô com o pai, Cândido Satil de Oliveira. Em Imperatriz, Dª Francisca ensinara a muita gente, e alguns de seus ex-alunos levaram e fixaram a dança em outros municípios maranhenses, como Davinópolis e João Lisboa. O trabalho de Dª Francisca foi premiado em 2008 pelo Governo Federal, por meio do Ministério da Cultura. Ela recebeu a distinção “Mestra da Cultura Popular”; gravou um disco de músicas suas e da tradição popular chamado “Batalhão Real: Lindô e Mangaba de Dona Francisca”. Em Imperatriz, na gestão de Buzuca à frente da Fundação Cultural municipal, foi instituído o “Prêmio Dona Francisca do Lindô de Cultura Popular”,  com premiação em dinheiro (no total, R$ 52 mil, em 2019) para as categorias bumba meu boi categoria, dança da cultura popular e de resgate folclórico e quadrilhas juninas. Uma escola pública municipal de Imperatriz, antigamente chamada Mutirão, foi rebatizada com o nome de Maria Francisca Pereira da Silva.

Em sua administração do Sociedade Imperatriz de Desportos, Buzuca levou o clube ao bicampeonato maranhense, em 02 de maio de 2015, vencendo nada menos que um dos dois grandes times da capital, o Sampaio Corrêa. O clube, que foi fundado com o nome de Sociedade Atlética Imperatriz e é mais conhecido por sua torcida como “Cavalo de Aço”, completará exatos 60 anos em 04 de janeiro de 2022.

*

Com o Raimundo Costa Silva, o Costinha, que morreu na noite de 13/03/2016, aos 60 anos, Buzuca é o segundo vereador do mesmo mandato que o meu a falecer. No caso do Buzuca, a covid-19 o levou quando ele estava internado em UTI do Hospital Carlos Macieira, na capital maranhense.

José Carneiro Santos morre, mas deixa viva na História local sua participação em pelo menos quatro pilares de uma Sociedade: a Economia (como pequeno empreendedor do comércio); a Política (como vereador duas vezes); o Esporte (na presidência de clube e na conquista de campeonato estadual pelo tricampeão Sociedade Imperatriz de Desportos); e na Cultura, na qualidade de gestor (presidente) da Fundação Cultural de Imperatriz.

Que a História da cidade e a memória dos familiares e amigos rendam ao Buzuca o justo tributo que merecerem seus esforços em prol do que é coletivo no município de Imperatriz.

Agora, amigo e colega vereador Buzuca, que você tem toda a Eternidade para descansar, faça isso. Com muita Paz.

Nosso pesar e conforto à Família, neste e nos próximos dias de luto, tristeza e saudades.

 

EDMILSON SANCHES
edmilsonsanches@uol.com.br
Administração - Comunicação - Desenvolvimento - História – Literatura
PALESTRAS, CURSOS, CONSULTORIA

Fotos: Buzuca com a esposa, Maria Edna, e na Câmara Municipal e em evento desportivo do clube bicampeão  -- depois tricampeão estadual -- que dirigiu, o Sociedade Imperatriz de Desportos.

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